|
Perfil de PavilCurto
(64)TUDO TEM LIMITE, INCLUSIVE A PACIÊNCIA.(106)
PAVIO CURTO. É uma expressão universal, presente em quase todas as línguas. Remete para um imaginário de piratas e de guerrilhas antigas. Aquelas bombas que todos conhecemos e que vemos nos desenhos animados existiram mesmo, foram inventadas no século XV e eram utilizadas como granadas. Afinal, porque é que explodimos? Numa perspectiva evolutiva, as nossas crises de raiva são parentes próximas das reacções de fuga e luta que nos têm mantido vivos desde os primórdios da Humanidade. Numa situação de perigo, o corpo dispara mediadores neurológicos que multiplicam temporariamente a força muscular, a velocidade de reacção, a acuidade visual, a capacidade de concentração. Neste contexto, a explosão de raiva é como que um descontrolo destrutivo de um instinto de sobrevivência. Como tudo em excesso, o excesso de adrenalina contida ou o excesso de raiva contida são uma espécie de caruncho que vai comendo os nossos alicerces até pôr em perigo o edifício. É clássico: vamos nós muito bem no nosso carro, pensando com os nossos botões, quando de repente passa-nos um tipo à frente, quase provocando um acidente, e ainda por cima, quando apitamos, faz-nos um sinal feio com a mão; o sangue sobe-nos à guelra, o interior do nosso carro encolhe, porque crescemos quase até bater no tejadilho, tudo à volta fica desfocado e ao fundo de uma espécie de túnel colorido e difuso está o nosso "inimigo", que teremos impreterivelmente de erradicar da face do planeta ou a quem, no mínimo, devemos dar um ou dois valentes sopapos. E ao pequeno-almoço tínhamos acabado de conversar calmamente com o nosso filho sobre os benefícios da temperança e as subtilezas da interacção social... Que se terá passado? Numa sociedade em que se multiplicam as interacções urbanas despersonalizadas, em que o espaço pessoal de cada um é constantemente agredido por intromissões de terceiros, multiplicam-se também os casos de gente de pavio curto. Para piorar a coisa, aquilo que chamamos "comportamento normal" é uma abstracção que só faz sentido em registos limitados: como diz a canção, "de perto ninguém é normal". Negar nossas dificuldades é negar o humano que existe em nós. |